03 agosto 2019

Resenha #171 - Vox

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Resenha Vox

Uma distopia atual, próxima dos dias de hoje, sobre empoderamento e luta feminina.
O SILÊNCIO PODE SER ENSURDECEDOR #100PALAVRAS
O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade.
Esse é só o começo...
Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir.
...mas não é o fim.
Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.

Eis uma distopia que quero ler desde a primeira vez que ouvi falar sobre esse livro. Como boa louca das distopias, esse entrou na lista de desejados bem rápido, e coloquei ele na lista de livros distópicos pra ler no inverno. Assim que começou o inverno, foi ele que comecei a ler desesperadamente.
"A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada."

A história de Vox...

Após a ascensão ao poder de um pastor com mania de grandeza, as mulheres foram silenciadas. Foram retiradas de seus empregos e levadas ao cuidado com a casa e a família. Para silenciá-las, cada mulher recebeu uma pulseira com um contador que vai até 100. Após passar desse número, uma descarga elétrica é liberada e vai aumentando a potência quanto mais elas falam.
"Não creio que eu realmente acreditasse que isso um dia aconteceria. Acho que nenhuma de nós acreditava. Depois da eleição, começamos a acreditar."
Esse livro narra um ano desse regime. De acordo com o relato da Jean, elas foram sendo silenciadas aos poucos. Primeiro mudaram a grade escolar das meninas, depois dando mais poder aos meninos, e inserindo matérias de teorias do fundamentalismo cristão obrigatoriamente. Tirando as mulheres do senado, tirando os passaportes delas, proibindo o uso de contraceptivos (mesmo sem haver problema com baixa natalidade), depois manipulando imagem de feministas para mostrá-las como histéricas. E com o apoio de muitas "mulheres puras", pintando uma imagem de que essa nova forma de viver como algo maravilhoso para todas as pessoas, já que estaríamos fazendo aquilo ao qual fomos destinadas por Deus: cuidar da casa e da família. Não foi de uma hora pra outra que tudo aconteceu. Nunca é de uma hora pra outra.
"Talvez tenha sido isso que aconteceu na Alemanha com os nazistas, na Bósnia com os sérvios, em Ruanda com os hutus. Às vezes, eu refletia sobre isso, sobre como crianças podem se transformar em monstros, como aprendem que matar é certo e a opressão é justa, como em uma única geração o mundo pode mudar tanto até ficar irreconhecível. É fácil, penso."
Quando o irmão do presidente sofre um acidente, eles chamam Jean (que é uma das maiores especialistas em linguagem) para reverter a situação. Por muito tempo, ela se recusa a ajudar a pessoa que faz com que esse sofrimento todo se abata sobre ela. Mas quando Jean percebe o que ela pode fazer com a pouca liberdade que lhe foi concedida de volta ela aceita o trabalho. E é lá que ela vai se ver no meio de uma trama para silenciar toda a população, porque quem pode reivindicar qualquer coisa quando não consegue se fazer entender?

Minha opinião...

(AHHHHHH!!!! Gritem. Falem. Sussurrem. Usem suas vozes. Quando a gente termina esse livro sente uma enxurrada de palavras se atropelando pra sair. As palavras existem e querem ser ditas. Elas querem que a falemos. Então, falemos.)
Em minha opinião, é um livro que bebeu da fonte de O conto da Aia, mas não é uma cópia, em momento algum. Digo que bebeu de O conto da Aia por também se tratar de uma distopia religiosa com repreensão feminina.
O que mais me incomoda em toda e qualquer distopia é pensar o quanto de chance aquilo tem de se tornar real. Na atual conjuntura de nosso país, com nosso governo e tudo, eu não me surpreenderia nem um pouco se esses ditos "valores cristãos" fossem implementados amanhã, fazendo o Estado deixar de ser laico. Eu já disse aqui diversas vezes que sou cristã, mas em nenhum momento da minha vida eu vou concordar que seria da vontade de Deus que as mulheres fossem silenciadas. Se fosse assim, ele não nos teria escolhido para gerar vida. E nem vem com essa que Eva veio de Adão e o caralho. Zero provas disso e Lillith veio antes dela.(ignorem esse parágrafo de revolta, ou não ignorem também.)
"A memória é uma maldição. Sinto inveja da minha filha; ela não precisa se lembrar da vida antes das cotas nem dos dias de escola antes do Movimento Puro decolasse. É uma dificuldade me lembrar da última vez que vi um número maior do que 40 em seu pulso frágil... Para o resto de nós, minhas ex-colegas e alunas, para Lin, para minhas amigas do clube de leitura, a mulher que era minha ginecologista e a Sra. Ray, que nunca mais vai fazer paisagismo em outro jardim, a memória é tudo que existe."
O esposo da Dra. Jean McClellan é um caso assim... amor e ódio. Ele não se manifesta a favor desse novo regime, ainda bem, mas também não mostra fazer nada para mudá-lo e isso irrita a Jean e a nós também. Vamos ficando com raiva de Patrick por permitir que tais coisas aconteçam com sua esposa e filha.
"_Vai se foder.
Ele está com raiva, magoado e frustrado. Mas nada justifica as palavras que saem de sua boca em seguida, as que ele jamais poderá retirar, as que cortam mais fundo do que qualquer caco de vidro e me fazem sangrar por inteiro.
_Que saber, amor? Acho que era melhor quando você não falava."
Lin e Lorenzo, colegas de trabalho de Jean, são dois personagens maravilhosos a sua maneira. Cada um deles tem um papel muito importante na coragem da protagonista. Eles são meio que a força que ela não encontra em si. Esse trio de cientista, com a ajuda de uma resistência (lembre que sempre tem uma resistência), farão tudo para derrubar esse governo de opressão e silêncio.
Jean é uma protagonista extremamente forte. Em alguns momentos tive raiva dela, mas me coloquei no lugar dela e me perguntei o que eu faria. Honestamente, não sei se eu teria a coragem necessária para enfrentar todo um sistema. Gostamos de pensar em nós como seres humanos fortes e destemidos, mas na hora que aperta, será que é assim mesmo que somos ou somente a teoria é linda?
Em muitos momentos, Jean se lembra de sua amiga Jackie a chamando para participar de passeatas a favor dos direitos das mulheres e ela recusando ir por estar ocupada com a faculdade e se arrepende profundamente de não ter lutado por ela e suas amigas quando ainda possuía voz para fazê-lo. Será que hoje estamos fazendo o que podemos para não ter nenhum arrependimento futuro?
"Minha culpa começou há décadas, na primeira vez que não votei, nas vezes incontáveis em que disse a Jackie que estava ocupada demais para ir a uma de suas passeatas, fazer cartazes ou ligar para meus congressistas."
Honestamente, o final não foi tão satisfatório pra mim, mas foi um bom desfecho de modo geral. Acho que eu queria algo diferente, por isso meu desapontamento.

Outras quotes...

"O que as meninas aprendem agora? Um pouco de soma e subtração, ver as horas, saber contar o troco. Contar, claro. Devem aprender a contar até cem."
"A insensatez dos homens sempre foi tolerada."
"Todas aquelas casas são pequenas prisões, penso, e dentro delas existem celas na forma de cozinhas, lavanderias e quartos."

Ficha Técnica...

Título: Vox
Título original: Vox
Autora: Christina Dalcher
Editora Arqueiro
320 páginas
Ano 2018
Nota: 5
Nota no Skoob: 4


Resenha vox



Concluindo: Uma das distopias que mais me deixou com medo de viver algo assim. Gostamos de imaginar que essas coisas acontecem somente na literatura, mas basta uma pessoa doente e outras com medo de mais ou confiança de mais para segui-la que tudo que conhecemos pode acabar de uma hora pra outra. Mais que um livro, um alerta.

Agora me conta se você já leu Vox e o que achou da história. Um beijo e até a próxima.

 
http://vidasempretoebranco.blogspot.com/p/anunciantes.html
 

4 comentários:

  1. É um livro que faz a gente refletir muito sobre o que estamos vivendo. As vezes parece que a sociedade só quer o silêncio e a obediência das mulheres.
    Tenho certeza que é um livro muito bom.
    Bjus!

    galerafashion.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É um livro incrível, de fato. Não é uma leitura fácil. A gente se revolta o tempo todo, mas acredito que é mais que uma indicação. É nosso dever ler e nos fazermos ouvir enquanto podemos usar nossa voz livremente.
      Beijos

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  2. Oi Lary!
    Eu tô doida pra ler essa distopia tbm desde que soube do lançamento, quem sabe consigo esse ano ainda né?
    Adoro a reflexão e o alerta que as distopias trazem. Nem me imagino vivendo num mundo assim!
    Bjs
    http://acolecionadoradehistorias.blogspot.com

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    Respostas
    1. Oi Carol
      Eu amo distopias também. A meu ver, elas servem de alerta pra gente abrir os olhos pra tudo o que acontece a nosso redor.
      Leia e depois empreste pra todo mundo que puder. O mundo precisa ler esse livro.
      Beijos

      Excluir

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