05 dezembro 2020

Resenha #176 - Era uma vez Catarina... A mulher que descobriu uma fenda no céu

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"E então lá estava eu, prestes a trocá-la por um outro tipo de verdade. Quantas delas haveria, afinal? Uma para cada pessoa, uma para cada realidade ou ainda para cada momento?"

Camila Pelegrini

No marco 0, uma mulher descobre uma fenda no céu. Ao atravessá-la, visita outras épocas e lugares; descobre a Verdade.
Antes disso, nada. Depois, somente sua palavra.
Numa sociedade em que homens podem ser eleitos, mas não votar, Cauã tem a determinação de um jornalista atrás de uma grande história, e a inquietação de um ser humano em busca de direitos.
No entanto, enquanto conversa com ponteiros de relógios e tenta realizar seu próprio voo de balão, o rapaz descobrirá que o céu é imensidão reservada apenas às mulheres.
Assim como a grandiosidade do passado
E a simplicidade de poder andar tranquilo à noite.

 

Depois de meses sem conseguir finalizar uma leitura, li o novo livro da Camila Pelegrini com uma facilidade que somente um livro dessa linda consegue fazer. Sua nova distopia é, novamente, uma lição sobre feminismo e os perigos de aceitarmos calados as coisas como elas são.

 


Era uma vez Catarina...

Cauã é um jovem jornalista que vive subjugado em sua profissão, visto que são poucos os homens que tem a sorte de conseguir um cargo como o seu, já que os cargos oferecidos para homens geralmente são cargos que exigem sua força física, um dos únicos atributos que são vistos como válidos nos homens nesse mundo onde, desde o marco zero, os papeis se inverteram (do modo como conhecemos) e as posições de comando foram dados a mulheres, visto que por sua capacidade de raciocínio, parece bastante óbvio que elas fiquem no comando.

"Acho que no fundo só queria ter voz. Ou ao menos deixar de ser silenciado pelo simples fato exclusivo de ser homem."

Acontece que Catarina descobriu uma fenda no céu por acidente, ao perder o controle de seu balão. Essa fenda a levou a viagens através do tempo e lhe deu a chance de reescrever a história, sem alterá-la, somente observando e contando as coisas como realmente aconteceram, dessa vez da visão de uma mulher, que tem a chance de retratar eras de sub-julgamentos por parte dos homens.

Rafaela, melhor e única amiga de Cauã é um ponto fora da curva nesse ambiente onde todas as mulheres se acham mais do que os homens, já que é assim que as coisas são. Afinal, se você fosse ensinado desde o nascimento que é melhor do que o outro simplesmente por ter nascido mulher, você acabaria acreditando e reproduzindo isso (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência).

"Rafaela tinha cheiro de lar, amizade e família."

Quando sua chefe passa para Cauã uma matéria sobre times de futebol, ele relutante aceita, visto que tinha uma outra ideia de matéria, mas ao iniciar sua pesquisa, ele descobre que uma das netas da líder do país pode estar metida em um caso de corrupção que pode mudar toda a sua carreira. Com a ajuda de Rafaela e indo contra tudo o que a sociedade acredita, Cauã vai mergulhar cada vez mais profundamente nessa história, mergulho esse que pode não ter volta para a superfície.

"Será que eu algum outro ponto da história livros já haviam sido tão temidos? Será que já haviam sido utilizados como armas, como eu estava prestes a fazer?"

 

A opinião da Lary sobre o livro...

Como falar que eu amei sem dar mil spoilers? Camila, como sempre, conseguiu me prender em sua história e tornar aquele mundo real para mim. Me fez ficar perguntando muitas e muitas coisas. Sabe toda aquela pauta sobre feminismo que a gente fala tanto (e deveria falar mais)? Então, em Era uma vez Catarina é tudo ampliado e nos faz ver como as coisas realmente são.

"Ou em um cenário completamente fictício, em que homens fossem aqueles com privilégios, eu agiria como qualquer uma delas?"

Como mulheres, nós somos ensinadas desde a mais terna idade a nos cuidar, a nos dar o respeito, a como reagir quando alguém tentar algo conosco. Porém, os homens não são ensinados a respeitar, a ouvir, a aceitar as diferenças ou lidar com rejeição, causando todas as complicações que vemos por ai. Ao invertei os papeis, Camila faz com que a ferida doa no outro e abre os olhos das mulheres que ainda não veem o machismo no dia a dia (sim, existem muitas mulher anti feminismo).

"Eu diria que saiu de moda aceitar todo tipo de absurdo calado."

O livro foi muito bem escrito, como era o esperado (sou fã e puxo o saco mesmo) e me trouxe várias reflexões, principalmente sobre qual é o meu papel específico nisso tudo. Sou mulher, branca, cis em um relacionamento hétero, mãe de um menino. O que eu posso fazer para a luta feminista? Qual o meu papel nessa sociedade? Sempre há muito a se pensar e esse livro me mostrou isso de maneira ainda mais intensa.

Eu indico demais a leitura desse livro e, se você convencer um cara a ler, me avise, por gentileza, compartilhe a opinião dele. Vamos espalhar essa leitura por ai.

 

Outras quotes... 

"[...] dentro do que escrevo, o mundo é todo meu."

"[...] céu e inferno são duas ilusões, assim como qualquer extremo. O que temos é a terra, e apenas o que existe no meio."

"Sempre tive esse defeito de não conseguir me conformar com aquilo que não parecia certo."

"É curioso como um vaidoso não percebe que sua fraqueza é justamente a vaidade."

"_Você é maluca.

_E você não me amaria se eu não fosse."

"Nós estávamos no ano 378. Pela primeira vez me dei conta, notando minha arrogância pela demora em constatar algo tão simples: o passado era imensamente maior do que o presente."

"Nós enxergamos  a Verdade como bem entendemos, de acordo com a nossa conveniência, desde que nos mantenhamos seguros em nossos privilégios."

 

Ficha técnica...

Título: Era uma vez Catarina... A mulher que descobriu uma fenda no céu

Autora: Camila Pelegrini

Editora Increasy

168 páginas

Ano 2020

No Skoob

Nota: ***** (5/5)

Nota no Skoob: 4.6

Compre o livro

 

Camila Pelegrini

 

 

Concluindo: Era uma vez Catarina pode ser um livro que não vai agradar gregos e troianos, mas me agradou infinitamente, mostrando lados que muitas vezes acabamos por ignorar da sociedade onde vivemos, tudo de forma bastante explicita, pra não deixar ninguém desinformado.

 "Quero dizer, tanto esperança quanto livros eram cuidadosamente mantidos fora do nosso alcance, fornecidos em doses homeopáticas, que nos mantinham conformados o bastante para estar ativos, produtivos e funcionais, mas não o suficiente para nos resgatar do marasmo da injustiça e nos colocar em posição de insurgência. Não era tão difícil assim compreender como as coisas funcionavam. Era como eu agiria se precisasse controlar mais ou menos metade da população."

Caso tenha se interessado por Era uma vez Catarina, pode gostar também de:

Por serem da mesma autora

Sombras do medo

Aos olhos de Zoe

A maldição dos inocentes

 

Por falarem sobre a mulher na sociedade

Vox

O conto da Aia

 

Indico também o filme Não sou um homem fácil. É basicamente a mesma temática, e me lembrei muito do filme enquanto lia o livro. 


Agora é sua vez. Me conta se já leu o livro e, se não, se vai procurar. Me indica também livros com temáticas parecidas. Um beijo e até a próxima

 

 
http://vidasempretoebranco.blogspot.com/p/anunciantes.html
 

 

4 comentários:

  1. Olha, dona Lary, a cada lançamento, um presente novo vindo de você. Suas resenhas sempre me fazem suspirar. Que alegria te ter comigo!!!!

    Obrigada por tanto. Eu amei (só pra variar né!!!!) hahahaha <3

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ah, Mila, um prazer indescritível ter você por aqui e poder sempre estar presente nos seus lançamentos. A cada livro você me surpreende mais
      Beijos

      Excluir
  2. Oi Lary, tudo bem?

    Não conhecia o livro e nem a autora, mas a reflexão que ela traz na obra chamou a minha atenção. Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade que valoriza o cabo de guerra entre mulheres e homens quando tudo ficaria mais fácil se buscássemos o equilíbrio.





    Beijos;*
    Ariane Reis | Blog My Dear Library.




    Beijos;*
    Ariane Reis | Blog My Dear Library.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Nani
      O livro é cheio de reflexões ótimas. Recomendo demais que o leia. E, sim, a busca pelo equilíbrio deveria ser a chave para um bom relacionamento entre as pessoas.
      Beijos

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