21 agosto 2019

Resenha #173 - Todas as coisas belas

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 "Pode a literatura ser minha religião? Será essa minha vocação, ser uma missionária da ficção?"

Matthew Quick

 Você é livre para ser quem quiser — mesmo que isso tenha um preço.
Depois de O Lado Bom da Vida, Matthew Quick cria romance para todos que desejam se encontrar. Consagrado no Brasil com o best-seller O Lado Bom da Vida, Matthew Quick traz ao público jovem uma ode à liberdade, abordando as complexas questões de identidade que marcam a transição para a idade adulta.
Aos 18 anos, Nanette O’Hare é a típica boa garota. No fundo, porém, ela nunca se sentiu realmente parte do grupo, sufocando em um permanente desconforto com diversas atitudes das amigas e com os padrões sociais. Mas tudo muda quando, no último ano do colégio, ela ganha um livro de seu professor preferido, o clássico cult O ceifador de chicletes, e fica fascinada com a mensagem de que ela pode ser de fato quem é. Nanette se torna amiga do recluso autor e se apaixona por Alex, um jovem poeta que também é fã do livro. Encantada com esse novo mundo que se abre, ela se permite, pela primeira vez, tomar as próprias decisões. No entanto, aos poucos Nanette percebe que a liberdade pode ser um desejo arriscado e começa a se perguntar se a rebeldia não cobra um preço alto demais.
Aviso: Esse livro pode conter gatilhos.

A história...

Nanette é uma excelente jogadora de futebol, sendo parte da dupla de sucesso de seu time. Ela já foi responsável por ganhar diversos jogos para sua escola e essa sua habilidade incrível pro esporte já lhe garantiu bolsa em várias universidades. Além disso, ela é uma excelente aluna. Costuma passar longos momentos conversando com seu professor favorito, senhor Graves, que lhe dá o livro O ceifador de chicletes antes de um recesso escolar.
Nanette se apaixona pela história do livro, que relê sem parar. Quando descobre que o escritor mora em sua cidade, ela decide conhecê-lo. Eles se tornam amigos e Booker, o autor, tem somente uma regra: ele não fala sobre seu livro com seus amigos (por isso transforma todo fã em amigo). Mesmo desesperada por respostas, Nanette aceita as condições. Booker julga seu livro problemático por causar reações muito fortes naqueles que o leem.
"O autor tem obrigação de dar respostas. Todas as respostas!"
Booker apresenta ela a Alex, um outro fã transformado em amigo. Alex é um poeta, um garoto problemático de muitas maneiras. Ele apresenta ela a Oliver, um garotinho que ele conheceu defendendo-o de valentões e lhe apresentou O ceifador de chicletes.
Esse trio vai tentar decifrar os mistérios que ficaram aberto em seu livro favorito.

Minha opinião sobre o livro Todas as coisas belas...

Antes de mais nada, vamos parabenizar a arte de capa que está linda. Agora vamos parabenizar o Matthew por ter escrito um livro tão lindo.
A meu ver, esse livro é sobre amadurecimento, sobre deixar a infância pra trás e passar a tomar decisões importantes sobre nossa vida levando em consideração os nossos desejos e anseios. Nanette passou toda sua infância e adolescência sendo aquilo que era esperado dela, fazendo o que todos diziam que era o melhor pra sua vida, mas ela se toca que aquelas coisas não tem nada a ver com ela. Em um momento de quase desespero, ela percebe que nem sabe do que realmente gosta.
"Só porque você é boa em determinada coisa não significa que precise fazê-la."
Essa revelação leva Nanette a tentar descobri quem ela é quando para de seguir o que lhe é dito como certo. Em certo ponto dessa descoberta, ela passa a fazer terapia, e a terapeuta sugere que ela passe a falar na terceira pessoa por um tempo, esquecendo o EU. Gente, que exercício incrível. Todos deveríamos tentar.
"Nanette O'Hare irritará todo mundo falando sobre si mesma na terceira pessoa, e é capaz de ela até achar bem divertido."
Nessa jornada de Nanette de se encontrar, ela se perde, se afasta de si para buscar novas perspectivas em sua vida e é uma mensagem interessante que nos passa. O processo de descoberta não é simples, não é instantâneo.
"Seus pais e outros ao redor vão puni-la caso escolha ser você mesma e não como eles. É o preço da sua liberdade. A gaiola está aberta, mas todo mundo tem muito medo de sair, porque quem tenta, leva uma pancada, e é uma pancada e tanto. Eles querem que você sinta medo, que fique na gaiola. No entanto, depois de alguns passos fora dali, eles não a alcançam mais, e por isso você já não leva mais pancada. Outro segredo: eles não vão atrás de você porque também têm medo. Eles amam as gaiolas."
Esse livro é sobre a jornada de descobrimento dela. Ela se envolve romanticamente com Alex, mas sem nunca entendê-lo completamente. O garoto é incrível, mas uma bagunça de sentimentos e atitudes. Ele sofreu com bullying quando mais novo e escolheu não ficar se lamentando pelo que passou, mas sim agir e ajudar aqueles que passam pelas mesmas coisas que ele. Suas ações sem sempre são "boas", mas ele sempre tem a melhor das intenções.
"Ela começa a temer que Alex seja um covarde e que a poesia às vezes seja usada como máscara pelos que não desejam ser vistos ou não querem revelar o que pensam de verdade."
O livro O ceifador de chicletes infelizmente não existe (mesma sensação que tive com o Uma aflição imperial), mas é um excelente exemplo de livro que muda vidas. Adoro esses livros que provocam mudanças reais em nós.
O ponto crucial da narrativa da Nanette é que ela passa a se questionar se vale a pena fingir ser quem não é só pra ser aceita no grupo onde sempre esteve. Porque quando decidimos que não vamos mais seguir um padrão para sermos quem somos, geralmente somos excluídos, julgados, passamos a ser os estranhos.
"Foi quando entendi que não seguir o comportamento do grupo, mesmo que o comportamento envolvesse chupar uma porção de garotos mais velhos, dava a impressão de que eu era esquisita."
A história fala muito sobre tomarmos nossas decisões, nos tornarmos adultos. Honestamente, eu estou com meus 25, quase 26 anos e ainda não tenho ideia se estou fazendo as coisas do jeito certo. Acho que a gente nunca tem certeza 100% de que estamos no caminho certo.
Tem dias que eu queria poder desistir de tudo e começar novamente, mas não tem como eu desistir de TUDO. Então eu reaprendo a amar minha vida como é e encontrar soluções para mudar o que não posso aceitar, sem fazer um transtorno com as coisas que não posso mudar. Dá pra entender a loucura que é ser adulto?
Se você, querida pessoa menor de idade está lendo isso, pare com essa ideia de que quando fizer 18 tudo vai ser diferente. Vai ser diferente, mas não necessariamente um diferente bom. Quando somos adolescentes e estamos nos descobrindo, descobrindo o que gostamos e não gostamos é socialmente aceito, mas quando se é mais velho e resolve mudar, você é ainda mais julgado.
"Às vezes se paga caro pela individualidade, ainda mais quando se é mulher."
O final desse livro me surpreendeu de muitas maneiras. Eu não imaginaria esse desfecho nem em mil anos, mas amei a forma como ele foi concluído.
Indico essa leitura pra todos, sejam adolescentes (acho que com 15 já tá de boas ler ele), adultos... Principalmente indico ele pra todos que já se sentiram esquisitões,  diferentes, que não se encaixavam no grupo. Leiam. Eu me identifiquei muito com ela e, provavelmente, você se identificará também.
"Existem muitos adolescentes solitários no mundo, eles só não se conhecem. Se essa garotada se unisse, muitas coisas boas aconteceriam, mas o mundo tem muito medo de que os solitários se unam, por isso faz o que pode para impedi-los. Porque os solitários muitas vezes têm boas ideias, mas não tem apoio. As pessoas que contam com apoio têm muitas ideias ruins, mas têm poder."
Tecnicalidades: O livro é narrado em primeira pessoa pela Nanette, pelo menos na maior parte do livro. Chega o momento que citei ali em cima onde o livro passa a ser narrado na terceira pessoa e, a meu ver, o autor conseguiu fazer essa transição de maneira incrível. A narrativa é bem simples e fluída, embora em vários trechos eu senti a necessidade de parar a leitura, respirar fundo, refletir sobre o que estava lendo, para só depois continuar a leitura.

As personagens...

Nanette O'Hare é nossa protagonista, está no último ano do ensino médio e está em uma jornada de descoberta pessoal.
Alex Redmer é um poeta apaixonado por música alternativa e busca fazer justiça com as próprias mãos.
Booker, um velho autor recluso que não fala mais sobre seu livro e tem muitos segredos guardados a sete chaves.

Outras quotes...

"Sempre dá pra saber quando os velhos não conhecem algo que foi mencionado, porque eles usam algum termo que não se encaixa naquele universo, quase como se tentassem vencer a tal novidade recusando-se a nomeá-la da forma correta."
"As pessoas são lamentavelmente previsíveis. E eu sei de muitas coisas. É uma maldição."
"Eu insistia em me censurar por pensar em tantas garotas da minha idade pelo mundo que não tinham o que comer nem acesso a água tratada e ali estava eu, me sentindo prisioneira em um carro de luxo, a caminho das melhores universidades do país interessadas em me proporcionar formação acadêmica sem custo."
"Eu sentia como se não fosse possível ou mesmo certo que todo mundo resolvesse ser honesto ao mesmo tempo, como se a estrutura do mundo não fosse feita para suportar tamanho volume de verdade."
"Se eu fosse seu pai, não poderíamos ser amigos, ora. Você me odiaria. E eu seria obrigado a fazer você escrever uma carta de apresentação impecável para as universidades."
"_A gente pode ir hoje à tarde.
_Não tenho carro.
_Eu tenho uma bicicleta. Você tem uma também. E temos pernas para pedalar!"

Ficha Técnica...

Título: Todas as coisas belas
Título original: Every Exquisite Thing
Autor: Matthew Quick
Editora Intrínseca
272 páginas
Ano 2018
Nota: 5
Nota no Skoob: 4

Concluindo: Uma leitura maravilhosa e mais do que recomendada. Se você busca por resposta, leia-o e descubra que somente você pode as responder.

Agora é a sua vez de participar. Me conta se já leu esse livro e o que achou dele. Obviamente a Lary adorou e vai irritar todo mundo indicando ele e, de vez em quando, se afastando e falando na terceira pessoa.
Espero que tenham gostado da resenha. Um beijo e até a próxima.

http://vidasempretoebranco.blogspot.com/p/anunciantes.html

16 comentários:

  1. Oi, Lary!

    Adorei a sua resenha!! Eu tô com 24 anos e às vezes também me sinto assim, querendo reiniciar tudo, ou pensando se fiz as escolhas certas. Acredito que é natural nos sentirmos dessa forma, e encontrar isso em um livro, esse amadurecimento, acaba ajudando a nós mesmos. Fiquei curiosa com a história, gosto muito de obras assim que trazem reflexões e que conseguimos nos enxergar facilmente nos personagens.

    xx Carol
    https://caverna-literaria.blogspot.com/

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    1. Oi Carol
      Foi um dos últimos livros que realmente me fez refletir sobre minha vida, sabe? Ele é despretensioso, simples e é exatamente isso que o torna tão incrível.
      Beijo

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  2. Apesar de conhecer o autor eu nunca li n ada obre. Sua resenha e fez lembrar de um livro que li na adolescência e que me impactou da mesma forma, me marcou e eu nem ao menos me lembro do nome. Vou perguntar a minha amiga, pq me lembro que era dela que havia me emprestado.
    Faz anos que não pego algo que me deixe assim, tendo que parar a leitura para refletir.
    Esse foi para o top 5 de livros que quero ler.

    Abraço,
    Parágrafo Cult

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    1. Querendo saber agora o título desse livro que lhe ajudou na adolescência. Conta pra mim, viu.
      Esse foi um dos últimos que me fez refletir sobre tudo e eu estava precisando muito de um livro assim.
      Abraço

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  3. Amei a premissa do livro, acho que ele parte de boas reflexões.
    E eu tbm tenho quase 26 anos e ainda não sei viver, hahaha. E concordo com vc, quando saímos da adolescência já não é mais aceitável para a sociedade que nós tenhamos dúvidas.
    Enfim, vou colocar o livro na minha lista para futuras leituras, até porquê, o autor escreveu um dos livros que mais amo, O Lado Bom da Vida.
    Beijo, Blog Apenas Leite e Pimenta ♥

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    1. Oi Leslie
      E quando a gente sabe o que tá fazendo? Pelo amor de Deus. Parece que a vida é um grande jogo de adivinhação onde não fazemos ideia do que estamos tentando adivinhar. Muito confuso.
      Estou louca pra ler O lado bom da vida. Tenho ele aqui, mas ainda não o li.
      Beijos

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  4. Oi Lary, tudo bem?
    Já tinha visto esse livro por aí, mas sua resenha foi a que me fez ficar curiosa sobre ele. Achei muito legal essa jornada de autodescoberta da protagonista. E nossa, também fiquei super querendo pesquisar sobre Uma Aflição Imperial, até descobrir que era fictício.
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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    1. Oi Pri
      Menina, fiquei pesquisando sobre O ceifador de chicletes como uma louca pra descobrir que não é real. Dá uma tristeza quando essas coisas acontecem.
      Que bom que minha resenha te deu vontade de ler ele. É pra isso que tô aqui.
      Beijos

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  5. Oie Lary!

    Já tinha visto a capa desse livro na livraria, mas a sua é a primeira resenha que leio da obra.

    Quem nunca quis dar um reset na vida e recomeçar, não é mesmo? Eu estou nesse processo de auto descoberta e de certa forma recomeçando em vários sentidos e setores em minha vida.

    Fiquei bastante curiosa para conhecer a história.

    Beijos;***
    Ariane Reis | Blog My Dear Library.


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    1. Oi Ari
      Que honra '-'
      Acho que estamos sempre em processo de redescobrimento, né? Espero que tenha oportunidade de ler o livro em algum momento.
      Beijos

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  6. Oi Lary,

    Já vi esse livro por ai, mas nunca parei para saber mais da história,
    É tão bacana quando nos identificamos com o livro e ele nos traz pontos e perspectivas diferentes.
    Dica anotada!

    Bjs e uma ótima noite!
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    1. Oi Je
      Quando eu adquiri o e-book, o que mais me chamou atenção foi essa capa linda, mas eu não sabia nada sobre a história. Ando gostando de ler assim ultimamente, sem saber o que esperar.
      Beijos

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  7. Oi Lary!
    Adorei a dica!
    Eu nunca li nada desse autor, mas gostei da proposta desse livro, parece ter boas lições!
    Bjs
    A Colecionadora de Histórias - Blog

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    1. Oi Carol
      É minha segunda experiência lendo o autor. Gostei de ambos, mas são bem diferentes entre si.
      Beijos

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  8. Olá, Lary.
    Eu amei O Lado Bom da Vida do autor e não sabia sobre esse livro ainda. E você já me ganhou no quote que abriu a resenha. Vou anotar aqui para uma futura leitura.

    Prefácio

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    Respostas
    1. Oi Sil
      Eu tenho O lado bom da vida, mas ainda não o li. Essa quote de abertura é incrível, né?

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