04 maio 2019

Resenha #164 - Inventei você?

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Made you up?

Alex está no último ano do ensino médio e trava uma batalha diária para diferenciar realidade de ilusão. Armada com uma atitude implacável, sua máquina fotográfica, uma Bola 8 Mágica e sua única aliada — a irmã mais nova —, ela declara guerra contra sua esquizofrenia, determinada a permanecer sã o suficiente para entrar na faculdade. E Alex está bem otimista com suas chances, até se deparar com Miles. Será mesmo aquele garoto de olhos azuis com quem ela compartilhou um momento marcante no passado? Mas ele não tinha sido produto da sua imaginação? Antes que possa perceber, Alex está fazendo amigos, indo a festas, se apaixonando e experimentando todos os ritos de passagem tipicamente adolescentes. O problema é que ela não está preparada para ser normal. Engraçado, provocativo e emocionante, com sua protagonista nada confiável, Inventei você? vai fazer os leitores virarem as páginas alucinadamente, tentando decifrar o que é real e o que é invenção de Alex.


A história de Alex é muito conturbada, mas a forma que é contada a torna fofinha, apaixonante e muito tocante. Confesso que o que me levou a me interessar pelo livro foi essa capa lindona, não li nem sinopse, e acho que essa foi uma coisa incrível, já que li sem saber o que esperar e tudo se tornou grata surpresa.

A história

Vamos lá. A Alex é uma adolescente de 17 anos, tem esquizofrenia e uma família que faz de tudo pra ela se sentir bem consigo mesma, principalmente sua irmã mais nova, sua única aliada e a pessoa com quem ela mais se importa no mundo. Quando criança, Alex encontrou um menino no mercado, com olhos muito azuis e que a ajudou na sua façanha da libertação das lagostas. Acontece que ela acaba acreditando que Olhos Azuis é mais uma das invenções de sua mente, assim como a fênix vermelha que ela sempre vê na sua rua.
As coisas que a ajudam a diferenciar o real do imaginário são sua câmera fotográfica e a Bola 8 mágica do restaurante que ela trabalha, o Finnegan's. Com as fotos, ela as confere depois de um tempo, já que o é o que é imaginário costuma sumir após algum tempo.
"Os médicos foram de grande ajuda, mas desenvolvi meu próprio sistema para descobrir o que era real e o que não era. Eu tirava fotos. Ao longo do tempo, o real continuava na foto, enquanto as alucinações desapareciam."
Quando ela tem que fazer o último ano da High School em uma nova escola, seus medos começam a assombra-la ainda mais fortemente. Quando ela vê que um dos garotos de sua sala tem os mesmos olhos azuis que o menino que ela conheceu anteriormente, ela passa a suspeitar cada vez mais da sua capacidade de discernir o real do imaginário.
Sua vida passa a mudar, mesmo que pouco, quando Miles entra em sua vida.
Miles é um garoto muito querido, com olhos tão azuis quanto poderiam ser. Ele não consegue expressar seus sentimentos, ou interpretar os sentimentos alheios, o que pode torná-lo meio esquisito aos olhos das outras pessoas. Aos poucos e com muito receio, ele se aproxima de Alex, tornando-se assim uma das únicas amigas dele e ele dela.
"De um jeito estranho, parecia que o lugar dele era ali. Seu lugar era na terra das fênix e das bruxas, o lugar onde as coisas eram fantásticas demais para serem reais."
Acho que já deu pra perceber que existe um casal se formando aqui e tenho que admitir que é um dos meus casais adolescentes favoritos. As coisas entre eles rolam bem devagar, como geralmente acontece, e um sempre apoia o outro, está lá quando o outro precisa... Enfim, fofos de mais.
"Ele se inclinou e beijou minha testa. As vezes em que ele me beijava eram tão poucas e distantes entre si que não pude deixar de sorrir."
Enfim, o livro tem alguns mistérios que vão se resolvendo. Em alguns momentos as coisas podem ficar bem confusa, já que a narração da Alex não possa ser considerada extremamente confiável. A nova escola dela pode esconder algumas coisas bastante intrincadas e, com a ajuda de um antigo e um novo amigo, ela vai até mesmo salvar uma vida.

As personagens

Alexandra Ridgemont, ou Alex, é incrível. Sua bicicleta chama Erwin.
"Todo mundo é interessante se a gente prestar atenção por tempo suficiente."
Miles J. Richter, ou Olhos Azuis. O garoto temido pela escola toda, a pessoa que é contratada para dar lições em quem se mete onde não devia. Por trás de todo esse distanciamento, existe uma pessoa dócil, carinhoso, que somente não quer ser machucado e que não entende muito bem o que os outros sentem.
"Ele riu. Nossos vizinhos se viraram para nos olhar, porque Miles Richter rindo era uma daquelas coisas que os maias tinham previsto como um sinal do fim do mundo. Não foi muito alto, mas era a risada do Miles, um som que nenhum mortal jamais tinha ouvido antes."
Tucker Beaumont, amigo de Alex que trabalha com ela na lanchonete. Uma boa pessoa, meio estranho as vezes e tem um medo estranho do Miles.
"_Meu pai tem pacientes esquizofrênicos. Ele os chama de 'pessoas normais com mais peculiaridades'."

Minha opinião

A escrita da autora é super fluída, leve e divertida. A forma como a condição da Alex é abordada é bem interessante e diferente de qualquer coisa que eu já tenha lido. A história flui de uma forma muito gostosa e é difícil deixar o livro de lado até que esteja tudo lido.
Nunca tive contato com ninguém esquizofrênico, mas acredito que não deva ser muito fácil não saber o que é fruto de sua imaginação e o que de fato esta lá. Ler esse livro meio que nos mostra essa realidade que é tão pouco discutida, mesmo na literatura.
"Era tudo inventado? Será que o mundo inteiro estava dentro da minha cabeça?"
Todos os personagens são complexos. Não existe um vilão e um mocinho. Todos eles tem falhas, defeitos e qualidades. Por se tratar, em sua grande parte, em um elenco adolescente, em alguns momentos eu perdia a minha pouca paciência com eles. Coisa de quem já passou pela adolescência e não tem mais saco pra picunhinha.
O desfecho da história foi mais que satisfatório. Na verdade, a história toda é muito gostosa de acompanhar. Nada é muito fácil para Alex, revelações dolorosas aconteceram.
Eu me coloquei muito no lugar dela e tentei imaginar como a minha vida seria caso eu não soubesse diferenciar o real do imaginário. Já sou uma pessoa muito sonhadora, que preciso me lembrar de manter os pés no chão, mas nada que comprometa a minha visão do mundo real.
Gosto muito de livros que nos mostrem como a vida pode ser muito mais complicada do que imaginamos.
Não é uma comparação, mas acho que estou numa vibe meio assim. Recentemente falei aqui sobre Tartarugas até lá embaixo, que nos faz mergulhar na vida de uma garota que sofre de TOC. Quando o autor consegue fazer com que nos coloquemos no lugar de alguém com algum distúrbio mental, sinto que ele é um bom autor, que seria capaz de escrever sobre praticamente qualquer coisa.
Diferentemente do livro citado acima, nesse o mistério tem uma razão de ser e é bem construído. Seu desfecho é bem diferente de qualquer coisa que eu imaginava. Adorei ser surpreendida.

Outras quotes

"A definição de insanidade de Einstein é fazer a mesma coisa repetidas vezes e esperar resultados diferentes."
"Se ele não lembra, será que aconteceu?" - Minha favorita
"Senti uma onda de alegria delirante por ele ter dito 'você tem cheiro de limão', em vez de 'seu cabelo é vermelho'. Eu sabia que meu cabelo era vermelho. Todo mundo podia ver que meu cabelo era vermelho. Mas eu não sabia que tinha cheiro de fruta."
"Nem eu estava obcecada por ele. Eu, que pensava que ele podia ser Olhos Azuis e tinha chegado à infeliz conclusão de que, mesmo que não fosse, eu ainda não me importava de observar a maneira como ele passava os dedos nos cabelos e os colocava de lado quando caíam sobre a testa, ou como ele esticava as pernas exatamente vinte minutos depois do início de todas as aulas."
"Miles entendia de palavras. Ela entendia de pessoas."
"Dizem que adolescentes pensam ser imortais, e eu concordo. Mas acho que existe uma diferença entre pensar que é imortal e saber que pode sobreviver. Pensar que se é imortal leva à arrogância, a pensar que você merece o melhor. Sobreviver significa ter o pior jogado na sua cara e, ainda assim, ser capaz de seguir me frente. Significa se esforçar pelo que você mais quer, mesmo quando parece fora do seu alcance, mesmo quando tudo está trabalhando contra você. E ai, depois de ter sobrevivido, você supera. E você vive."

Ficha Técnica...

Título: Inventei você?
Título original: Made you up?
Autora: Francesca Zappia
Editora Verus
346 páginas
Ano 2017
Nota: 5
Nota no Skoob: 4.2

Made you up?


Concluindo: Um YA envolvente, com uma protagonista diferente, vivendo situações que nós somente podemos imaginar. Uma escrita leve e envolvente, uma história pra ficar na memória e no coração.

Eu montei uma pasta no Pinterest com imagens que tenham a ver com a história. Cliquem aqui pra conferir.



4 comentários:

  1. Oie Lary =)

    Coincidentemente acabei de ler uma resenha desse livro. Achei a premissa interessante, pois não me recordo de ter algum livro que aborde a doença. Nas outra resenha que li, foi comentado que existe certa romantização do diagnóstico, mas pelo visto isso não interfere na forma como a narrativa consegue envolver o leitor.

    Depois de ler a sua resenha, fiquei ainda mais curiosa para conferir a história.

    Beijos;***
    Ariane Reis | Blog My Dear Library.


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    Respostas
    1. Oi Ane
      Infelizmente, acho que todo livro que aborda alguma doença acaba romantizando ela, mas não interfere na narrativa. Ele mostra bastante as dificuldades de uma pessoa esquizofrênica e achei isso bem legal.
      Beijos

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  2. Parece um livro bem interessante.
    É bom saber que trata de uma doença pouco falada em livros, principalmente livros com temas mais adolescentes.
    Bjus!

    galerafashion.com

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    Respostas
    1. É pouco falada na literatura, e em todas as formas de artes. Infelizmente existem tantos tabus sobre qualquer doença mental que fica tudo naquele limbo onde não podemos falar sobre.
      Beijos

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