10 abril 2019

Resenha #163 - Tartarugas até lá embaixo

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Depois de seis anos, milhões de livros vendidos, dois filmes de sucesso e uma legião de fãs apaixonados ao redor do mundo, John Green, autor do inesquecível A culpa é das estrelas, lança o mais pessoal de todos os seus romances: Tartarugas até lá embaixo.A história acompanha a jornada de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que sai em busca de um bilionário misteriosamente desaparecido – quem encontrá-lo receberá uma polpuda recompensa em dinheiro – enquanto lida com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).Repleto de referências da vida do autor – entre elas, a tão marcada paixão pela cultura pop e o TOC, transtorno mental que o afeta desde a infância –, Tartarugas até lá embaixo tem tudo o que fez de John Green um dos mais queridos autores contemporâneos. Um livro incrível, recheado de frases sublinháveis, que fala de amizades duradouras e reencontros inesperados, fan-fics de Star Wars e – por que não? – peculiares répteis neozelandeses.
Quando o novo livro do John foi anunciado, todo mundo foi a loucura. Eu fiquei bem felizinha, já que tinha gostado de tudo do autor que tinha lido, mas não me desesperei e nem comprei em pré venda, nada disso. Tentei, ao máximo que pude fugir de toda e qualquer coisa relacionada ao livro, para que quando o fosse ler, não tivesse nenhuma expectativa. Bom, não consegui fugir de tudo, mas quase tudo e li ele com o coração aberto, o que foi uma excelente escolha.

A história

Em Tartarugas até lá embaixo, conhecemos Aza, uma adolescente americana bem típica, a não ser pelo fato da mesma ter Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e isso a levar a várias espirais de pensamento, a manias, como pressionar um ferida no dedo que nunca sara, trocar o band-aid frequentemente, usar álcool em gel mais do que o necessário, fugir de contato humano... Aza é um ser peculiar e são essas peculiaridades dela que fazem a história ser interessante.
"Mas eu estava começando a entender que a vida é uma história que contam sobre nós, não uma história que escolhemos contar."
Infelizmente, o tio João Verde achou que isso não seria o suficiente (seria) e enfiou um mistério na história. O fato da protagonista ter o sobrenome Holmes não foi o bastante para acreditar em suas habilidades investigativas, o mistério não foi assim tão misterioso e a conclusão foi meio qualquer coisa. E é por isso que acho uma pena que o John não focou na relação da Aza com as pessoas e o mundo, porque todas as partes que mostram essa relação foram muito mais interessantes que o mistério do milionário desaparecido.
"Você é uma pessoa de verdade tanto quanto qualquer outra, e suas dúvidas a tornam ainda mais real, não menos."
Tá que o desaparecimento é um gancho pra Aza voltar a ter proximidade com uma pessoa de seu passado, Davis, e essa proximidade mudar e mostrar muito de sua relação com pessoas, acredito que o gancho poderia ser outro e, mesmo assim, a história ser bem desenvolvida.
"O verdadeiro terror não é ter medo, é não ter escolha senão senti-lo."
Essa pessoa, Davis, é uma parte muito importante pro desenvolvimento da nossa história. Ele era amigo de Aza quando mais novos e acabaram se afastando. Ele é uma fofura e não merecia tudo o que começa a acontecer com ele e sua família. Davis é meio que um trilho de luz no caminho da vida de Aza.
"Ficamos olhando um para o outro em silêncio, embora fôssemos apenas borrões na luz turva das telas dos nossos celulares, e aquele foi o momento mais íntimo que já tive na vida real."
Daisy, dita melhor amiga da Aza, é uma pessoa desprezível. Ela acha sua amizade com ela um fardo, escreve um fan fic de Star Wars onde cria uma personagem baseada na Aza, mas ressaltando todas as coisas sobre ela que ela não gosta, a tornando uma personagem quase que intragável. Ela que dá a ideia de tentarem resolver o desaparecimento do senhor Pickett.
"Às vezes, eu achava que Daisy só era minha amiga porque precisava de uma testemunha para seus feitos."
As espirais de pensamento de Aza são a parte mais interessante da história, com toda certeza. Quem nunca se viu perdido em uma espiral de pensamento não sabe o quão desesperador é não ver fim para aquela enxurrada de pensamentos nos quais você não tem controle. Eu me identifiquei muito com a Aza em muitos momentos. Eu tenho ansiedade e são essas espirais que me levam a crises. Começo a pensar em algo, quando vejo se transformou em algo completamente diferente e me leva a ter uma crise de ansiedade, pânico, depressão e tudo mais. É horrível.
"Não dá pra saber como é a dor de outra pessoa, da mesma forma que tocar o corpo de alguém não é o mesmo que viver naquele corpo."
Tem um cena específica, onde Aza percebe que realmente perde o controle, mas não consegue parar de fazer o que está fazendo que me tocou profundamente. Não ter o domínio sobre seu próprio corpo é desesperador.
Lá pra parte final do livro tem a explicação pro título e achei a explicação bacana. Tem outra referência as espirais também, mas servem como referência, não como explicação.

As personagens

Aza Homes é nossa protagonista e a pessoa mais querida. Ela foi diagnosticada com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ainda nova, sua mãe a faz frequentar uma terapeuta, coisa que ela não vê sentido. Ela se vê perdida constantemente.
Daisy é um tanto quanto controladora, outro tanto aproveitadora, outra tanto irritante. Não consegui gostar dela nem um tantinho. Aza estaria melhor sem ela.
"_Não estou dizendo que você é muito boa ou muito generosa ou muito legal, só estou dizendo que é memorável."
Davis Pickett é um fofo. Cuida de seu irmão mais novo com todo o amor e carinho que nunca recebeu de seu pai. Perdeu a mãe muito novo e sente sua perda. Escreve em um blog seus sentimentos confusos. Quase tão ruim em relacionamentos com pessoas quanto a Aza.
"[...]Mesmo naquela época, Davis e eu não conversávamos muito, sequer nos olhávamos muito, mas que isso não importava, porque estávamos observando juntos o mesmo céu, o que, para mim, talvez seja mais íntimo do que contato visual. Qualquer um pode olhar para você, mas é muito raro encontrar quem veja o mesmo mundo que o seu."

Minha opinião

John Green conseguiu, novamente, criar personagens cativantes, com uma história pessoal interessante. Infelizmente, ele preferiu deixar um pouco os relacionamentos pessoais em segundo plano em alguns momentos para dar destaque a um mistério que não funcionou bem pra mim. Faltou motivo, faltou envolvimento e faltou uma resolução a lá House, onde tem um momento de revelação cósmica onde tudo faz sentido.
Mesmo assim, eu considero um bom livro, já que a parte de desenvolvimento de personagem foi muito bem feita. A Aza evolui bastante, assim como sua mãe e Davis. As relações dela e a forma como ela enxerga o mundo é algo a ser conversado mais abertamente. Quando começamos a desmitificar transtornos de personalidade, conversas acontecem e a gente passa a conhecer melhor o mundo do outro.

Outras quotes

"O grande problema dos garotos é que noventa por cento deles são meio que qualquer coisa. Se a gente vestisse e higienizasse os caras direitinho, se conseguisse colocar uma postura decente neles, fazer com que ouvissem as garotas e não fossem uns idiotas, eles seriam totalmente aceitáveis."
"Os adultos pensam que sabem controlar o poder, mas na realidade é o poder que acaba controlando os adultos."
"Eu só conseguia vê-lo porque ele conseguia me ver."
"Acordei um caco: não apenas cansada, mas também apavorada. Estava me vendo como Daisy me via: sem noção, sem conserto, sem utilidade. Sem nada de bom."
"Somos tanto o fogo quanto a água que o extingue. Somos o narrador, o protagonista e o coadjuvante. O contador da história e a história em si. Somos alguma coisa de alguém, mas também o nosso eu."
"NÃO IMPORTA COMO VOCÊ MORRE. IMPORTA QUEM VOCÊ MORRE."

Ficha Técnica...

Título: Tartarugas até lá embaixo
Título original: Turtles all the way down
Autor: John Green
Editora Intrínseca
272 páginas
Ano 2017
Nota: 4
Nota no Skoob: 4.2

Concluindo: É um bom YA. Tem a escrita leve, divertida e fluída do John Green. Dá pra sentir que o livro é dele e que foi investido muito tempo e carinho para a escrita. É fácil de ler, cheio de referências pop e ainda abre espaço para falarmos sobre TOC. Recomendo.

Agora é a hora do nosso bate papo. Me fala se já leu o livro e o que achou da leitura. Gostei de falar sobre TOC? O que achou do mistério do pai do Davis? Qual outra obra já leu do John Green?
Vamos conversar aqui nos comentários, adoro essa interação. Um beijo grande e até a próxima.



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