22 agosto 2018

Resenha #150 - O conto da Aia

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Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.
Eu precisava ler esse livro. Quando comecei ele, já estava com outras três leituras inciadas, mas eu não conseguia me concentrar em nada e só pensava na série baseada nele, ai obedeci a todos os pontos em meu corpo que clamavam por isso e comecei ler ele. Li o e-book, então sem detalhes sobre edição.
Vamos lá. acho que todo mundo já sabe do que se trata a história, mas de forma bem resumida, houve um golpe de estado nos EUA e agora eles eram conhecidos como a República de Gilead, que se tornou uma comunidade opressora e teocrática, onde as mulheres foram reduzidas a nada, assim como homossexuais. As mulheres férteis, que cometeram adultério ou qualquer outro crime extremamente hediondo para eles, se tornaram Aias, contra sua vontade. As Aias são moças férteis que são enviadas para as casas dos grandes Comandantes (homens poderosos sem filhos) e tinham a função de dar a essa família um bebê. E a nossa história é narrada pela Offred (no livro nunca é revelado o nome verdadeiro dela).
Eu juro que vou tentar não ficar comparando o livro com a série, mas em alguns momentos isso vai ser impossível. Eu vi a primeira temporada da série ano passado e a segunda temporada recentemente e ainda está tudo fresco na minha mente, então as comparações serão inevitáveis.
Bom, Offred conta sua história de maneira não linear, sem muitos detalhes. Ela conta sobre seus dias, seus sentimentos, as coisas que acontecem naquele mundo ao qual a limitaram. E vem tudo sem aviso. Ela conta tudo em enxurradas, sem dó da gente, sem nos preparar nem nada. A forma como ela nos conta, dá a impressão que ela está relembrando o que lhe aconteceu. Deve estar super confuso o que estou dizendo. Vamos de novo. A impressão que dá é que ela está narrando para alguém as suas recordações, mas ela não está narrando na ordem que aconteceu e sim conforme ela foi recordando, pro isso tem tantos trechos onde ela se recorda de coisas do "tempo de antes".
"Por que estou com medo? Não violei quaisquer limites, não empenhei nenhuma confiança, não assumi nenhum risco. É a escolha que me apavora. Uma saída, uma salvação."
Gente eu não sei mais o que dizer sobre o livro. Ele é incrível, super bem escrito, nos mostra uma sociedade distópica que aterroriza, principalmente, pela probabilidade de acontecer. Uma sociedade onde os crimes são julgados de acordo com o Antigo Testamento, onde as mulheres não podem ler e não tem voz ativa alguma. Tudo é aterrorizante de mais, palpável de mais...
"Lamento que haja tanto sofrimento nesta história. Lamento que esteja em fragmento, como um corpo apanhado num fogo cruzado ou desfeito em pedaços à força. Mas não há nada que eu possa fazer para mudá-la."
Mesmo sem saber o nome da protagonista, nos conectamos com ela, passamos a viver a sua vida e ter seus medos e inseguranças. Sentimos saudade de sua família, encontramos um ponto de esperança em um mundo onde toda forma de amor que você encontrar, você agarra.
Tem um trecho específico onde Offred discorre sobre o que elas viverem ser ou não estupro que eu achei muito interessante. Uma das discussões maiores na série é essa: se as Aias são estupradas ou não e achei bem legal a forma da autora tratar o tema. Eu achar interessante não quer dizer, necessariamente, que eu concorde com a Offred, só significa que achei interessante.
"Abaixo dela o Comandante está fodendo. O que ele está fodendo é a parte inferior de meu corpo. Não digo fazendo amor, porque não é o que ele está fazendo. Copular também seria inadequado porque teria como pressuposto duas pessoas e apenas uma está envolvida. Tampouco estupro descreve o ato: nada está acontecendo aqui que eu não tenha concordado formalmente em fazer. Não havia muita escolha, mas havia alguma, e isso foi o que escolhi."
Eu não ia falar sobre Luke ou Nick, mas tenho que falar. Eu amo o Nick. A meu ver, ele é a esperança, a rocha que mantem Offred em pé, sobrevivendo. O papel dele no livro é pequeno, ele quase não aparece, quase não tem falar, sabemos pouco sobre ele, mas ele esta sempre lá, como um ponto de referência em meio ao caos. Parabéns a autora por todas as nuances que encontramos nessa história.

Pausa pra comparar com a série

Agora eu não consigo continuar sem fazer essas comparações entre o livro e a série. Pra começar, as características dos personagens são bem diferentes. A idade do casal que a "tem" também diverge. No livro, são um casal mais velho, por volta dos cinquenta anos. Na série, eles aparentam a mesma idade que ela. No livro, a casa tem duas Marthas, Rita e Cora. Na série, temos somente Rita, mas, a meu ver, ela tem mais da personalidade de Cora do que de Rita. No livro, tem televisão na casa. Na série, nada de TV pra ninguém. Sobre a Janine dos livros: Uma chata, mas fiquei com dó dela em certo ponto.

Ficha Técnica...

Título: O conto da Aia
Título original: The Handmaid's tale
Autora: Margaret Atwood
Editora Rocco
368 páginas
Ano 2006
Nota: 5
Nota no Skoob: 4.4

Concluindo: Agora entendo porque fizeram tantas adaptações da obra, por que ela é tão aclamada. A forma como a autora nos faz mergulhar em Gilead, é incrível, intenso e aterrorizante. Sua escrita flui, mesmo sendo pesada. Temos personagens cativantes e complexos, uma sociedade crível (embora tenha muitas lacunas sobre sua criação e funcionamento, visto que nossa narradora não é onipresente) e uma crítica aos hábitos de hoje (com relação a poluição e coisas assim). Uma distopia incrível que todos deveriam ler.

Vamos conversar. Me conta se já leu esse livro, ou se viu a série. Me conta se achou tão incrível quanto eu, qual seu personagem favorito, as suas teorias. Adoro quando a conversa continua nos comentários. Um beijo e até a próxima.



6 comentários:

  1. Oie Lary =)

    No meu trabalho comentam muito a série baseada nesse livro, porém pelo pouco que sei acho a temática da história um pouco "pesada". Confesso que tenho um pouco de curiosidade, mas pelo livro do que pela adaptação. Só não sei quando vou conseguir ler, pois a a minha pilha de livros só cresce e o tempo anda cada vez mais curto.

    Beijos;***
    Ane Reis | Blog My Dear Library.

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    Respostas
    1. Oi Ane
      A série é de fato bem pesada. Não é aquela série que você revê. Vê uma vez, reflete e é isso. Mesmo ela sendo bem tensa, já estou super ansiosa para a próxima temporada, preciso saber o que vai acontecer...
      Beijos

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  2. Ainda não li o livro porque quero ler na sua versão original, em inglês. Mas ainda não encontrei tempo para me dedicar à procura.
    Tenho andado a seguir a série e adoro!

    Miss DeBlogger

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    Respostas
    1. Eu não sei se conseguiria ler o livro em inglês. Tem várias palavras e expressões criadas ali no meio e ficaria perdida.

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  3. Eu nunca li esse livro nem li a série, mas de tanto as pessoas falarem nele parece que já sei a história inteira e acabei perdendo o interesse. Talvez um dia se tiver um exemplar pra pegar na biblioteca eu leia. Sei que o livro é bom, mas por enquanto não tenho vontade de ler.

    Ps. Viu que seu blog tá fixado no meu? Está entre os blogs que mais gosto! Bjks
    https://passeinabiblioteca.blogspot.com/

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    Respostas
    1. Uma pena que não te deu vontade de ler o livro ou acompanhar a séries. Ambos são muito bons.
      Eu vi meu blog lá e fiquei tão feliz. Obrigada pelo reconhecimento.

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