26 abril 2017

Resenha #94 - Café sobre tela

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Livro cedido para resenha em parceria com a autora. Todas as opiniões aqui presentes são minhas, sem alterações, na tentativa de lhes transmitir o que senti ao longo da leitura.
Catarina, uma menina de apenas doze anos, tem seu casamento arranjado com Heitor, um rapaz mais velho, e muda-se, então, para uma fazenda de cultivo de café, em Serra Vermelha. Lá, no convívio da sociedade tradicional imperial do século XIX, vai perdendo a inocência ruralista de sua infância, dando lugar a uma personalidade crítica, que apura os problemas sociais da época. Se Catarina não fosse "a menina que dormiu entre as bonecas" e se não fosse Heitor seu prometido, esta seria apenas uma história sobre um casamento arranjado, no entanto, esta é uma história sobre bonecas, pincéis, café, piano e senzala; sobre como ainda existe amor em tempos de sofrimento, liberdade em tempos de escravidão, e histórias de uma vida inteira na mais silenciosa das canções.Um romance de época sensível, no entanto, provocador, que propõe uma visão realista, mas literária, da história do Brasil.
Das coisas que uma menina de doze anos desconhece, a noite de núpcias pode ser a menos dolorosa.
"Uma última reflexão que faço sobre o café: há que ter fé nas palavras."

Catarina é uma criança. Filha de um senhor que tem uma fazenda de cana de açúcar. Ela perdeu sua mãe bem nova. Quem cuida dela é sua babá negra e escrava, Nana, uma mulher incrível. Catarina foi obrigada a se casar com Heitor ainda criança. Seu pai garantiu a família do noivo que ela já estava pronta para casar, mas não era verdade. 
Mas Heitor se mostrou um homem de verdade e, percebendo os medos da menina, não consumou o casamento e se tornou seu amigo e confidente. O que mais despertou esse sentimento de proteção em Heitor foi ver sua então esposa dormindo entre suas bonecas.
Mas Café sobre Tela é mais que um romance de época fofo e incrível. É sobre escravidão. É sobre sofrimento. É sobre o ser humano e a perda de sua humanidade em busca de riquezas e poder. 
A escrita da Ania é maravilhosa e eu não conseguia parar de ler. O livro acabou com meu emocional. Me fez chorar horrores e tacou na minha cara uma realidade que eu conheço, mas preferia que ela não existisse. 
"[...]Culpa por ser parte de um grupo de pessoas que importavam outras como se fossem lustres." Pág 46
Sabe aquele lance das coisas que a gente sabe que existe, mas prefere fingir que não existiu? Eu sou muito sensível com relação a várias coisas e saber que nosso país surgiu e cresceu na mão de obra escrava me machuca muito. Sei que era um outro tempo e as pessoas pensavam de forma diferente, mas não gosto de imaginar o sofrimento dessas pessoas, as coisas pelas quais passaram... Pra mim é muito complicado. 
E em Café sobre tela nos é contada a história da captura de Nana e tudo o que a negra (forma que ela mesmo se refere a ela) passou no Brasil. O que mais me fez chorar durante a leitura foi a história da captura de Nana. Horrível imaginar que isso aconteceu com milhares de pessoas. Chega a dar um aperto enorme no coração. 
"Quando entrou naquele porão, sob empurrões e pauladas, Nana sabia que jamais veria sua filha outra vez; deixara Kayna a esperar por ela, quebrara a promessa de que voltaria para embalá-la mais uma vez no colo." Pág 155
Como vocês já sabem, eu vou fazendo a leitura e conversando com os autores e descobri com a Ania que realmente houve um casamento na mesma circunstâncias de Catarina e Heitor, onde o marido percebeu a meninez de sua então esposa e não a forçou a nada, esperou para que ela estivesse pronta. Saber que isso realmente aconteceu a tanto tempo me faz ter esperança de que isso pode ter acontecido com mais de um casal que passou pela mesma situação. Me faz acreditar que existiram vários Heitores numa época de crueldade, onde a mulher era basicamente uma encubadora. 
Não é uma leitura leve, principalmente se você é sensível com essas coisas, assim como eu, mas é um livro necessário. Mesmo se tratando de ficção, muito dele é real, embora eu gostaria que muito dele fosse ficção. 
"As ruas populosas e heterogenias do Rio de Janeiro causava a ilusão de igualdade. Logo, era fácil ignorar a existência da escravidão e desviar seus pensamentos em direção à cultura, moda, perfumes e joias, como os broches de camafeu que adornavam seu peito, no fundo, ressentido." Pág 122
Quem tiver a chance de ler esse livro, não pense duas vezes. Leia e se deixe ser levada pra uma realidade complicada, mas com uma mensagem linda.

Outras quotes:
"O simpático recepcionista do Hotel de luxo, não sorrira para Heitor quando a reserva fora cancelada antes do prazo; mas a senhora, dona do cortiço na Cidade Velha, lhes sorriu, mesmo na falta de dentes." Pág 142
"A sinhá se sente culpada por tê nascido de vossa cor e carregá o peso do sofrimento de minha gente, mas a maldade não tem cor, não, sinhá. A maldade fica debaixo da pele, onde tudo é igual." Pág 157

Ficha Técnica...

Título: Café sobre Tela
Autora: Ania K. Gevezier
Editora Chiado
179 páginas
Ano 2015
ISBN-13: 9781519334107
ISBN-10: 1519334109
No Skoob (não tem minha edição no Skoob. Vamos arrumar isso ai, galera)
Nota: 5
Nota no Skoob: 4.6

Quote escolhida para o projeto Poteando Quotes




Adoro dedicatórias *-*



Concluindo: Uma leitura emocionante e tocante. Duvido você terminar essa leitura sem derramar ao menos uma lágrima. Não é uma leitura pra passar o tempo. É uma leitura para refletir sobre nosso país, sobre o ser humano e nosso atos.

Compre o livro
Saraiva
Cultura

4 comentários:

  1. Ouvi falar sobre esse livro, porém ainda não tive a oportunidade de ler. Já entrou para minha lista!

    Gostei do seu blog e estou seguindo! <3

    http://blogquinzeprasnove.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  2. Oi, Lary.
    Menina que livro hen.
    Imagino o aperto do seu peito, também ficaria assim. O pior é saber que realmente houve uma história como essa, aliás uma não muitas.
    Mas que bom que existiu um Heitor.
    Beijo

    Te Conto Poesia ♥

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Camila
      Nos duas somos muito sensíveis hehe. Infelizmente ocorreram muitas histórias como essa, mas como disse, que bom que existiu um Heitor.
      Beijo

      Excluir

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